terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Ponto final


Hoje acabou. Foi o último abraço. Possivelmente a última vez que aqueles olhos verdes pousaram sobre mim.

A palavra "parabéns", provavelmente sem nenhum significado para ele, para mim foi como um adeus.

E o meu simples "obrigada", na verdade, queria dizer "eu te amo". Palavras nunca ditas, que talvez devessem ter sido. 

O ponto final foi colocado, enfim...

- Adeus meu amor, espero um dia... não te esquecer, pois essa palavra é muito forte e sei que o tempo não apaga memórias, mas espero que amenize a lembrança e o sofrimento que vem com ela. Mesmo sabendo que não há vida após você, sei que há uma sobrevida e tentarei sobreviver. 

Patricia Strogenski

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Não comeu e Julieta


Era uma vez uma princesa chamada Julieta. Certo dia ela foi convidada a passar um tempo em um reino vizinho, foi quando tudo começou.

Ela era diferente das outras princesas, não passava horas em frente ao espelho e não se importava com o quanto custavam seus vestidos. Tinha dois amigos que estavam sempre com ela, a princesa do reino onde ela estava e o sobrinho do rei.

Em uma bela noite de sábado, estava tendo uma festa em um dos salões do castelo, então Julieta e seus amigos decidiram dar uma passada para ver como estava.

Como era esperado, a festa não estava muito animada, os músicos reais não eram dos melhores e a princesa ficou lá conversando com seus amigos próximo a entrada do salão.

Quando de repente ela o viu entrando, um homem que chamou a sua atenção de imediato. Quando ele passou não teve como disfarçar e ela ficou olhando para ele. Ao perceber, ele também começou a olhar para ela e começaram a conversar.

Após um tempo de conversa, ele perguntou quem ela era e onde morava. Inocentemente, ela respondeu que era uma princesa e estava morando naquele castelo no momento. Foi então que um buraco se abriu e engoliu todo o seu mundo.

Ele olhou nos olhos dela e disse que eles não poderiam ficar juntos, pois ele trabalhava para o rei e que seria antiético eles manterem um relacionamento. Ela tentou explicar que só ficaria ali mais algum tempo e depois voltaria para seu reino, então não teria problema eles se encontrassem outras vezes.

Mas ele manteve sua postura e continuou dizendo que não. Ela ficou muito triste e percebeu que jamais deveria ter contado que estava morando ali, afinal era só uma estadia passageira.

Porém, quando ela perguntou se poderia esperar por ele, pois passados aqueles meses eles já não estariam mais sob o teto do mesmo rei. Ele respondeu:

- Essas coisas não se podem premeditar, simplesmente acontecem.

Então ela disse:

- Mas você não está deixando que aconteçam.

Houve um momento de silêncio e ele foi embora sem dizer mais nada.

Depois disso ela o viu várias vezes no castelo, mas desde então não se encontraram mais.

O que resta a ela é esperar que o tempo dela naquele lugar passe e ele não a tenha esquecido. Esperar que, quando ela voltar para o seu reino, as pedras que estão em seus destinos sejam chutadas para fora da estrada e eles possam se encontrar novamente. Pois desde aquela noite ela não conseguiu mais tirá-lo da cabeça.

Mas... 

No dia de ir embora, Julieta procurou por seu amado para que eles pudessem conversar sobre a situação. Foi quando ele disse que estava saindo com uma cortesã do reino.

A princípio Julieta ficou chateada com a situação, mas ao analisar melhor o caso, ela só tinha a agradecer à moça. Afinal, um homem que era tão chato que só havia tido um único relacionamento em toda sua vida e por mais que negue, ainda pensa na ex, mora com a mãe e não possui sequer uma carruagem, pode até ter o que oferecer a uma cortesã, mas não a uma princesa.

Com essas conclusões, Julieta voltou para seu reino, o que será de seu futuro nem ela sabe ainda, mas com certeza será melhor do que levar uma vida patética ao lado de um empregado do rei.

Título sugerido por Regiane Silva
Patricia Strogenski

sábado, 7 de abril de 2012

Delírios de uma mente insana

Às vezes fazemos loucuras tão grandes que seria impossível calcular o tamanho exato. A linha que separa o amor do ódio, a loucura da sanidade e a ilusão da realidade muitas vezes não pode ser vista, nem sentida.

O sim e o não apesar de palavras opostas muitas vezes se misturam, isso acontece quando se diz não querendo dizer sim ou diz sim querendo dizer não.

Pois foi exatamente o que aconteceu. O planejado para uma noite de outono era ficar encapsulada nos cobertores, assistindo a um filme ruim qualquer, mas sempre tem alguém que diz: 

- Vamos, vai ser legal. - E o pior é que sempre tem um tonto que cai nessa, dessa vez fui eu.

Essas coisas acontecem quando não percebemos qual dos lobos interiores estamos alimentando, se é o bom ou o mal e no fim acabamos descobrindo que matamos o bom de fome.

Antes de sair, fiz todo um roteiro do que aconteceria naquela noite. Não estava esperando me divertir, iria apenas chegar, beber e ir embora, nada além.

Afinal, porque mesmo eu estava indo?

A resposta a essa pergunta me foi dada algumas horas depois, era só a vida me pregando uma peça, e das boas.

Cheguei ao local de destino, tudo como imaginado, lugar esquisito com pessoas estranhas ou que fingiam ser estranhas. Fiquei lá em um cantinho, me sentindo uma Jedi no meio de Lords Siths.

Não. Aquelas coisas com certeza não eram Lords Siths. Voltando...

Lá estava eu como uma qualquer no meio de um bando de outros uns que também não eram nada.

Então começaram as bebidas. Bebidas, bebidas e mais bebidas depois, lá estava eu, conversando com seres que eu não gostava e que não gostavam de mim.

Mas o pior ainda estava por vir. Surgiu, parada na minha frente uma pessoa, alguém que eu conhecia, mas não tava nem aí, ou achava que não estava nem aí, alguém que eu tinha quase certeza que mal sabia meu nome. 

Foi então que meu lobo interior, não sei qual deles, pois os dois já estavam abraçados cantando “Garçom”, gritou:

- Eu quero beijar alguém!

Ora, beijasse o outro lobo que tava ali, mas não, esse grito se exteriorizou e alguém ouviu.

Sabe aquele cara que eu achava que não tava nem aí? Foi ele quem ouviu. Me olhou com seus lindos olhos de um jeito que eu nunca vou esquecer e respondeu:

- Eu beijo você!

E beijou. Foi como se eu tivesse sido teletransportada para esse estranho mundo onde me senti a própria “Sally”.  

Foi uma noite de insanidades, delírios, imagens distorcidas e lembranças claríssimas de absolutamente tudo. Fui levada para o círculo das seis existências, conheci o tesouro do céu, sobrevivi e voltei.

E quando voltei... Começou essa invasão intergaláctica dentro da minha cabeça, meu lobos estavam mortos, sofreram um coma alcoólico. Era uma verdadeira guerra interior, nada mais fazia sentido.

Por mais que eu tentasse colocar as coisas no lugar e voltar à sanidade, aquelas lembranças não queriam me abandonar. Por mais que eu tentasse me manter longe, essa pessoinha estava sempre rondando meus pensamentos, meus sonhos.

E quando dei por mim estava de volta naquele universo paralelo. Com ele, meu sol e estrelas. Estava afundada em sentimentos, pensamento lunáticos, obsessivos, um desejo suicida transformado em homicida, imagens e sonhos que estão sempre comigo.

E ainda estou aqui, com sentimentos tortos, sonhos que se transformam em pesadelos e pesadelos que viram sonhos.

Há quem diga que tudo aconteceu por culpa do destino, há quem diga que foi Deus, mas tenho certeza que Deus não tem nada a ver com isso, há até quem diga que eu já queria, mas tentava me enganar. Se eu fazia isso, estava fazendo muito bem.

O importante é que sim eu errei e não satisfeita fiz de novo, mas como já dizia o poeta: "Nunca cometa o mesmo erro duas vezes. A não ser que tenha sido bom." E foi, foi muito bom. 

Será que foi um erro? Ou foi um acerto mal interpretado?


Patricia Strogenski

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Perdas

Alessa estava chorando, ainda o amava muito, mas não suportava mais a dor de amar alguém que  não sentia o mesmo por ela e só a fazia sofrer. Sem saber o que fazer tentou falar  com  algum  amigo, alguma  pessoa  que talvez pudesse fazê-la sentir-se melhor, mas ninguém estava disponível. Ela estava só e com muita dor.

Toda a esperança que ela vinha alimentando foi esquecida, não se sentia mais feliz como há poucas horas, agora só existia a dor e um enorme abismo em sua frente. O que devia fazer? Fez-se essa mesma pergunta várias e várias vezes, mas não conseguia responder, não podia pensar, não queria ver que agora era pra sempre, não importava o que ele falasse ou fizesse, não suportaria passar por tudo de novo.

A única coisa que ela queria nesse momento era que a dor passasse, que tudo ficasse bem de novo, mas sabia que depois disso nunca mais seria a mesma pessoa, em poucos minutos passou de uma mulher que amava, que tinha sentimentos, para uma pessoa que não queria mais essa vida. Tentou parar de pensar nele e esquecer, mas o único sentimento que conseguia ter naquela hora era ódio, dele, de si mesma e principalmente da pessoa que o tirou dela.

Ela só queria que eles morressem naquele minuto, para que nunca mais ouvisse falar daquela mulher e para ser obrigada a esquecê-lo, pois sabia que não tinha forças para ficar longe dele, por mais que isso a machucasse. Mesmo assim estava decidida que não o queria mais, mas queria que ele sofresse, sofresse muito. Parou de chorar, escreveu um email para ele e resolveu sair desse mundo.

Ela parou de sofrer. Mas ele teve que viver com a culpa e a dúvida de que talvez se ele tivesse atendido o telefone naquele dia ela ainda estaria aqui. Foi só quando perdeu que ele deu o valor que ela tinha.

Patricia Strogenski

Metamorfose


Ela já o conhecia, só de vista, mas sabia que tinha algo diferente nele. Era lindo demais para um humano. Sua pele branca, seus cabelos negros encaracolados na altura dos ombros e seus olhos eram o que mais a fascinava, pois tinham um brilho diferente. Um dia resolveu segui-lo através de um beco, então teve certeza: ele, definitivamente, não era humano! Mas, com todos os problemas que tinha naquele momento, não se deu conta ou simplesmente não se importou com o que acabara de ver.
  
Um dia, após uma grande desilusão, resultado de um amor não correspondido, Alessa resolveu deixar esse mundo. Foi naquela noite que ela aproximou-se dele. Foi ao mesmo local onde sempre o via e esperou. Quando já estava desistindo de tudo, ele chegou e pela primeira vez eles conversaram. Ela contou o que tinha testemunhado no beco algumas noites atrás, para que ele não pudesse negar quem era e para ter certeza de que ela sabia de tudo.


A princípio, ele disse que ela estava louca, que jamais faria isso, que ela não sabia as conseqüências do que estava pedindo. Mas depois de ouvir toda sua história, e refletir sobre como em toda sua vida mortal ela tinha sido infeliz, resolveu ajudá-la e transformá-la.


Naquela noite ela renasceu e, logo que a dor passou pode ver o quanto estava diferente. Linda, sua pele era ainda mais branca, seus cabelos negros, antes desajeitados, agora caíam suavemente sobre seus ombros e deslizavam até sua cintura, seu corpo era perfeito, podia caminhar e manter a postura sem o menor esforço, o que antes era algo muito difícil para ela.


Agora ela não podia mais ter contato com aqueles que tanto a fizeram sofrer, saiu da vida humana e deixou todos para trás. Como ela desapareceu, todos ficaram com a culpa do que teria acontecido, achando que talvez estivesse morta, sem ter idéia de como agora ela estava linda e feliz ao lado de uma “pessoa” que com o tempo aprendeu a amá-la mais do que tudo no mundo e por toda a eternidade.

Patricia Strogenski

Nova Vida

Quando Alessa decidiu transformar-se em uma vampira, foi alertada das conseqüências, mas naquela noite ela estava sofrendo tanto que não se importava com nada, só queria que sua vida mudasse. E, de fato, foi uma grande metamorfose.

Passada a dor da transformação, ela se viu linda como jamais poderia imaginar, mas com todas essas mudanças veio também a sede, e agora ela precisava de sangue para sobreviver. A princípio, Andy, o vampiro que a transformou, a ensinou a caçar humanos, mas ele a alertou que deveriam ser mendigos, pessoas que vivessem nas ruas, para não levantar suspeitas.

Ela não concordava com isso, tinha nojo de tocar em mendigos e por mais que ele insistisse, ela passou meses sem se alimentar, até que teve uma ideia:

- Andy, o que você acha de sairmos da cidade e morar em um lugar mais afastado? Onde tenha animais, podemos nos alimentar deles.

- Não, não vou comer animais, eu gosto de animais, humanos são como lixo, não faz diferença matar um ou outro de vez em quando.

- Por isso mesmo não devemos nos alimentar deles, é nojento, o sangue dos animais é mais gostoso.

Depois de muita insistência, Alessa conseguiu convencê-lo a, pelo menos, tentar.

 Eles se mudaram para uma cidade que não ficava longe de uma grande floresta, e começaram a caçar animais no lugar de humanos. Não levantaram nenhuma suspeita nas pessoas da cidade, afinal, ao contrário do que dizem as lendas, vampiros podem viver durante o dia, Eles não gostam, mas é possível.

Ali eles puderam ficar por dez anos, depois tiveram que se mudar, pois todos envelheciam e eles não. Assim foram vivendo, a cada dez ou quinze anos eles se mudavam. Andy, depois de algum tempo convivendo com Alessa, começou a amá-la acima de tudo, pois seu jeito meigo e extremamente feliz de viver essa nova vida, o modo como ela encarava tudo o que acontecia, ele nunca tinha visto antes, e isso o conquistou.

Ela nunca mais chorou, nem se lembrou de toda a tristeza que sofreu em sua vida anterior. Estava em um novo mundo, um mundo que ela adorava, ao lado de uma pessoa que a amava e a quem ela seria eternamente grata por ter-lhe dado essa vida.


Patricia Strogenski

Doce Vingança


Durante 10 anos eles viveram em uma cidadezinha do interior. Para não levantar suspeitas sobre quem eles realmente eram, Andy e Alessa tentavam manter uma vida normal, tinham empregos e faziam faculdade, não que eles precisassem, mas gostavam de viver no meio dos humanos.

Andy foi transformado há aproximadamente 100 anos. Sua família era muito rica na época e ele sempre soube administrar muito bem seu dinheiro. Já Alessa não tinha família, e nunca foi rica, tinha que trabalhar para se sustentar. Agora, trabalhava porque não gostava de ficar em casa. Ela era recepcionista em uma empresa local, o serviço era fácil, mas a distraía. Andy abriu uma loja de carros, o que fazia em todas as cidades que passava.


Como já estava na hora de se mudarem, ela pediu para que voltassem à cidade onde morava antes. Ele não achou boa idéia. Mas como sempre ela o convenceu, dizendo que não queria vingança, estava apenas com saudades do lugar onde sempre morou, mas ele sabia que ela estava mentindo.


Ao chegarem na cidade ela não quis comprar uma casa, arranjar um emprego ou entrar para alguma faculdade. Ele sabia quais eram seus planos, mas não podia censurá-la por isso, afinal ela sofreu muito nas mãos daquelas pessoas.

Numa noite, eles foram a um bar próximo de onde ela morava antes. Foi quando ela os viu: o homem e a mulher que fizeram tanto mal a ela ali, ainda juntos. Ela se conteve e desfilou na frente deles ao lado de seu atual esposo. Os dois juntos formavam uma visão fantástica, uma beleza indescritível. A princípio, ela não foi reconhecida, mas foi até a mesa onde eles estavam e os cumprimentou. Foi quando ele a reconheceu.

Nenhum dos dois conseguiu entender como ela estava tão linda depois de todos esses anos, já que agora ela estaria com 35 anos. Desde que foi transformada ela manteve seus 25 anos e os manterá para sempre. Hipnotizado com sua beleza, não pensou antes de aceitar dar um passeio com ela, enquanto Andy distraía a mulher contando suas viagens pelo mundo.


Ela o levou para dar uma volta em uma rua totalmente deserta, e contou tudo pra ele. O que ela sentiu quando soube da outra mulher, o que decidiu fazer e quem ela era agora. Ele não acreditou, então ela teve que mostrar. Ela o mordeu, mas não para matar, queria que ele sofresse.


Foi quando Andy juntou-se a ela. Disse para a mulher esperar que iria procurá-los, mas ele sabia o que Alessa estava fazendo e não queria perder a festa. Eles o cercaram, não o deixavam fugir, e o mordiam cada vez que tentava se levantar. Caído eles o viam sangrar e se divertiam com isso. O riso de Alessa ecoava como uma bela canção perdida na noite. Brincaram por horas.


Quando viram que ele não tinha muito tempo de vida, ela sentou-se ao seu lado e tranqüilamente explicou porque não suportava viver no mesmo mundo que ele, e que ele iria morrer dentro de alguns minutos, sentindo muita, muita dor. Foi nesse momento que ela mordeu seu próprio pulso e deu algumas gotas de seu sangue para ele beber.


Se Andy fizesse isso, ele seria transformado, mas Alessa ainda era jovem e não podia fazer. Ela lembrou-se de quando Andy falou sobre como se transformava uma pessoa, e disse que ela ainda não tinha esse poder. Era algo adquirido com o tempo e que sua vítima provavelmente morreria com dores alucinantes. Foi exatamente o que aconteceu. Após gritar de dor e sangrar por 20 minutos, ele morreu. Eles jogaram seu corpo no mar e nunca foi achado. Também contaram para a mulher que eram vampiros e quando ela contou isso ninguém a levou a sério, afinal, quem acredita em vampiros?


Alessa e Andy partiram logo após o acontecido e nunca mais voltaram àquela cidade. Moraram em muitos lugares ao redor do mundo e nunca foram descobertos. Alessa até concordou em deixar Andy caçar humanos, depois de tudo o que ele fez por ela, ela achou justo não obrigá-lo mais a matar animais, com o tempo ela começou a gostar disso e saía para caçar com ele. Mas o que Andy lembrará para sempre é do sorriso, da satisfação e da alegria de Alessa naquela noite. 


Patricia Strogenski

Início

Andy nasceu em 1889, sempre foi um rapaz depressivo, cursou medicina para agradar seu pai, não via sentido em sua vida, até 1909, quando renasceu para sua vida imortal. Este ano tinha sido muito difícil para ele, pois seu pai havia falecido e ele teve que assumir os negócios da família.

Uma noite, quando estava em um bar com alguns amigos, viu passar uma linda mulher. Resolveu ir atrás dela. Ao alcançá-la, começaram a conversar e ela o levou para um beco. Ela era muito bonita, talvez por isso ele sequer percebeu onde ela o estava levando. 

Chegando a um local isolado, ela mostrou quem era e foi assim que ele foi transformado. Ela pretendia matá-lo, mas percebeu que ele não era como os outros homens aos quais estava acostumada, era lindo e extremamente educado, então resolveu tê-lo como companheiro, afinal ela já tinha vivido muitos anos sozinha.

No início Andy não conseguia se controlar e matou muitas pessoas. Sua criadora não ajudava muito, pois não se importava com quem ele matava. Depois de muitos anos ele resolveu deixá-la, pois eles não tinham as mesmas ideias e muitas vezes quase foram descobertos pelos descuidos dela.

Passaram-se muitos anos e Andy estava sempre vivendo a mesma vida de mudanças, de cidade em cidade, fazia suas vítimas e ia embora antes de levantar qualquer suspeita. Novamente nada tinha sentido, lembrava-se de como era sua vida mortal e chegava a conclusão de que tudo ainda era igual. 

E foi assim até a noite em que aquela moça de aparência triste lhe fez o pedido que até então ninguém tinha feito. Foi nessa noite que finalmente ele encontrou o amor, mesmo sem saber que iria amá-la tanto com o passar dos anos. Foi nessa noite que ele conheceu Alessa.

Patricia Strogenski

Plano Perfeito


Madrugada, tudo estava planejado e revisto; o carro abastecido, a cópia das chaves roubadas da casa, a arma com silenciador essa não deveria ser usada, tinha que parecer acidental. Tudo certo, era só começar.

Ela dirigiu pelas ruas da cidade com muita calma, tudo estava sob controle. No caminho teve tempo de repassar cada passo do plano, levando em consideração todas as possibilidades. Estava tranqüila, sua única preocupação era que tivesse mais alguém na casa, afinal, ela não precisava de mais vítimas, o alvo era só um.

Chegando à casa observou que seu alvo estava só. Abriu a porta com muito cuidado, não podia fazer barulho. Subiu as escadas devagar e chegou ao quarto. Viu que a vítima estava dormindo, tudo como previsto.

Então, em silêncio montou a armadilha, algo muito simples, um acidente que poderia acontecer com qualquer pessoa. Primeiro, desligou a chave de luz, depois com a ajuda de uma lanterna de luz mínima, se posicionou no corredor próximo a escada, que era escorregadia e muito perigosa.

Pegou seu celular e ligou para a casa da vítima. Com isso ela teria que se levantar, pois os telefones ficavam na sala e na cozinha, ambos no andar inferior. O único problema seria se o alvo não acordasse, mas ela tentou não pensar nisso e então ligou.

A vítima acordou, levantou-se e tentou acender a luz, em vão. Como o telefone não parava de tocar, decidiu tatear as paredes para chegar até ele, afinal era sua casa, a conhecia muito bem. Ao chegar à escada sentiu um empurrão. Estava escuro e a escada, além de não ter corrimão, era de um piso muito liso. Aconteceu a queda. O planejado aconteceu: o pé pisou inseguro na ponta da escada, escorregou e a vítima rolou 15 degraus abaixo.

Com auxílio da sua lanterna, ela certificou-se de que a vítima estava imóvel. Desceu as escadas, verificou o pulso da vítima e saiu. Fora da casa já em seu carro, no meio da estrada, ela pode, enfim, respirar, e ter a certeza de que aquela mulher jamais afetaria sua vida novamente.


Patricia Strogenski

Desencontro


Ela deixou escapar, sem saber, sem perceber que estava acontecendo ela o perdeu. Mas como podia saber que ele estava voltando, se jamais teve esperanças que isso pudesse acontecer? Saiu de casa, foi fazer uma viagem que seriam só dois dias, mas como ela achava que nada importante aconteceria resolveu ficar mais. Quando voltou viu seus sonhos acabados em uma carta deixada em sua porta.

Uma carta que dizia duas palavras, mas significava muito mais do que isso. Uma carta que dizia simplesmente, “ESTIVE AQUI”. Ao ler aquilo ela ficou totalmente desnorteada, tentou ligar, tentou encontrá-lo. Tudo em vão. Pois quando finalmente ela conseguiu falar com ele, ela ouviu “por quem você sumiu e demorou tanto para me responder?” Ela tentou explicar, mas não pode, pois não conseguia convencer a si mesma.

Ele não podia estar junto dela naquele momento, então vieram todas as perguntas. Eu precisava ter viajado? A viagem estava tão boa que eu tinha que ficar mais? Um ou dois dias teriam feito diferença? Por que ele não ligou ao invés de deixar a carta? São respostas que ela nunca terá. A única coisa que ela tem nesse momento é a incerteza de vê-lo novamente.

Patricia Strogenski

Solidão


Ela acordou... Na verdade ela não dormiu, já não dormia há muitas noites, não conseguia esquecer seu cheiro, algo que ela não teria mais. Levantou-se. Na cozinha preparou uma caneca de café e sentou-se para beber. Também não pôde, o gosto do café só a fazia lembrar-se ainda mais do gosto dele. Ela sabia que nunca mais o teria.

Saiu no meio da noite, em busca de um pouco de ar, pois não estava conseguindo respirar dentro de casa. Caminhando pela areia, ao som do mar e somente com a lua como companhia, ela chorou. Sentou-se próxima da água e tentou lembrar como era a felicidade, mas a ferida em seu peito não permitia que ela tivesse boas lembranças.

Deitou-se ali, na praia, na esperança que a dor fosse embora. Então lembrou daquilo que sempre lhe foi dito: “O tempo cura tudo”. Mas quanto tempo ainda teria que conviver com essa dor, com esse vazio? E novamente ela chorou.

Amanheceu e ela ainda estava ali. Por dias permaneceu ali, sem dormir, sem comer, sem pensar, apenas esperando por uma resposta que ela sabia que não teria. Enquanto a dor aumentava em seu peito, lembrava-se de tudo que tinha acontecido e não entendia, não podia entender o que tinha feito de errado.

Então percebeu que o tempo jamais a iria curar, que a dor nunca iria passar. Juntou o pouco de forças que ainda lhe restava e conseguiu levantar-se, então naquela noite, junto ao mar, sua dor passou e por alguns segundos ela lembrou-se de como era a felicidade. 

Patricia Strogenski