Às vezes fazemos loucuras tão grandes que seria impossível calcular o tamanho exato. A linha que separa o amor do ódio, a loucura da sanidade e a ilusão da realidade muitas vezes não pode ser vista, nem sentida.
O sim e o não apesar de palavras opostas muitas vezes se misturam, isso acontece quando se diz não querendo dizer sim ou diz sim querendo dizer não.
Pois foi exatamente o que aconteceu. O planejado para uma noite de outono era ficar encapsulada nos cobertores, assistindo a um filme ruim qualquer, mas sempre tem alguém que diz:
- Vamos, vai ser legal. - E o pior é que sempre tem um tonto que cai nessa, dessa vez fui eu.
Essas coisas acontecem quando não percebemos qual dos lobos interiores estamos alimentando, se é o bom ou o mal e no fim acabamos descobrindo que matamos o bom de fome.
Antes de sair, fiz todo um roteiro do que aconteceria naquela noite. Não estava esperando me divertir, iria apenas chegar, beber e ir embora, nada além.
Afinal, porque mesmo eu estava indo?
A resposta a essa pergunta me foi dada algumas horas depois, era só a vida me pregando uma peça, e das boas.
Cheguei ao local de destino, tudo como imaginado, lugar esquisito com pessoas estranhas ou que fingiam ser estranhas. Fiquei lá em um cantinho, me sentindo uma Jedi no meio de Lords Siths.
Não. Aquelas coisas com certeza não eram Lords Siths. Voltando...
Lá estava eu como uma qualquer no meio de um bando de outros uns que também não eram nada.
Então começaram as bebidas. Bebidas, bebidas e mais bebidas depois, lá estava eu, conversando com seres que eu não gostava e que não gostavam de mim.
Mas o pior ainda estava por vir. Surgiu, parada na minha frente uma pessoa, alguém que eu conhecia, mas não tava nem aí, ou achava que não estava nem aí, alguém que eu tinha quase certeza que mal sabia meu nome.
Foi então que meu lobo interior, não sei qual deles, pois os dois já estavam abraçados cantando “Garçom”, gritou:
- Eu quero beijar alguém!
Ora, beijasse o outro lobo que tava ali, mas não, esse grito se exteriorizou e alguém ouviu.
Sabe aquele cara que eu achava que não tava nem aí? Foi ele quem ouviu. Me olhou com seus lindos olhos de um jeito que eu nunca vou esquecer e respondeu:
- Eu beijo você!
E beijou. Foi como se eu tivesse sido teletransportada para esse estranho mundo onde me senti a própria “Sally”.
Foi uma noite de insanidades, delírios, imagens distorcidas e lembranças claríssimas de absolutamente tudo. Fui levada para o círculo das seis existências, conheci o tesouro do céu, sobrevivi e voltei.
E quando voltei... Começou essa invasão intergaláctica dentro da minha cabeça, meu lobos estavam mortos, sofreram um coma alcoólico. Era uma verdadeira guerra interior, nada mais fazia sentido.
Por mais que eu tentasse colocar as coisas no lugar e voltar à sanidade, aquelas lembranças não queriam me abandonar. Por mais que eu tentasse me manter longe, essa pessoinha estava sempre rondando meus pensamentos, meus sonhos.
E quando dei por mim estava de volta naquele universo paralelo. Com ele, meu sol e estrelas. Estava afundada em sentimentos, pensamento lunáticos, obsessivos, um desejo suicida transformado em homicida, imagens e sonhos que estão sempre comigo.
E ainda estou aqui, com sentimentos tortos, sonhos que se transformam em pesadelos e pesadelos que viram sonhos.
Há quem diga que tudo aconteceu por culpa do destino, há quem diga que foi Deus, mas tenho certeza que Deus não tem nada a ver com isso, há até quem diga que eu já queria, mas tentava me enganar. Se eu fazia isso, estava fazendo muito bem.
O importante é que sim eu errei e não satisfeita fiz de novo, mas como já dizia o poeta: "Nunca cometa o mesmo erro duas vezes. A não ser que tenha sido bom." E foi, foi muito bom.
Será que foi um erro? Ou foi um acerto mal interpretado?
Patricia Strogenski